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Guia do Orçamento para Ilustradores
Seguindo a mesma linha do Guia do Ilustrador, com bastante informação e conteúdo pra vocês, decidi fazer um guia completo de como fazer um orçamento para seu cliente. No meu vídeo Qual o valor da sua arte, dei um panorama sobre como cobrar pelo seu trabalho, mas aqui decidi ser mais objetiva, colocando números pra esclarecer melhor.
Lembrando que este guia é apenas uma sugestão, uma maneira de ajudá-los a fazer seus próprios orçamentos, e não é de maneira nenhuma uma regra. Vocês vão perceber que orçar não é um bicho de sete cabeças e vão se sentir mais seguros pra fazer isso sem medo de errar, cobrar demais ou de menos (não sei o que é pior).
Valor da Produção x Valor Comercial
O Valor de Produção é o custo envolvido diretamente na produção:
‒ Investimento em materiais e ferramentas. Tudo isso tem um custo;
‒ Custo do Espaço de trabalho. Se você trabalha em casa está gastando água, luz, internet e alimentação;
‒ Mão de obra. Uma boa forma de fazer esse cálculo é definir o valor da sua Hora de trabalho (leia abaixo);
‒ Também considere o tempo e dinheiro que investiu em sua formação, como cursos e especializações, sem contar a experiência que você tem na sua área.
O Valor Comercial é como seu cliente vai explorar sua arte comercialmente; quando sua arte é usada para vender ou promover alguma coisa: marcas, produtos, eventos, etc.
Editoras: Usar sua arte em livros e revistas / Ilustrando textos e matérias.
Agências de Publicidade: Divulgação ou promoção de algum produto ou estampar embalagens de produto.
Outros: Utilização da arte para divulgar marcas, serviços ou produtos nas redes sociais.
É importante manter em mente que uma parte do valor cobrado é justamente destinado aos direitos de comercialização, mesmo que esse valor não esteja especificado no orçamento.
Note que no caso de Encomendas para pessoa física, o valor comercial não existe, já que essa arte terá um uso pessoal. Alguns dos usos são: Presentear alguém; Decoração de um espaço; Usar a arte em perfil pessoal (não comercial).
O valor comercial pode ser maior ou menor que o valor de produção de acordo com os critérios abaixo.
Como calcular o valor da sua Hora de Trabalho?
Pra começar, é legal a gente estabelecer um valor base para sua hora de trabalho, pra que nenhum orçamento saia com um valor menor do que esse. Caso contrário, como dizem por aí, vocês irão “pagar pra trabalhar” se é que me entendem.
1. Liste suas despesas pessoais mensais:
*todos os valores abaixo são ilustrativos, faça as suas contas usando valores reais
2. Liste suas despesas ou investimentos profissionais mensais:
*caso você alugue uma sala ou espaço para trabalhar, não se esqueça de incluir também estas despesas aqui.
Até agora temos:
3. Leve em consideração também:
Já listamos tudo o que você GASTA todos os meses, então agora precisamos considerar outras variáveis:
Férias: As pessoas se esquecem que um autônomo não tem férias remuneradas, então ele precisa se preparar, de preferência ao longo do ano, para cobrir as férias e não passar perrengue durante esse período. Adicione mais um “salário” ao ano e dividida entre o orçamento dos 11 meses restantes.
Investimento: R$3700 ÷ 11 = R$350
Lucro: Faça um planejamento realista do quanto você quer guardar todos os meses, seja para cumprir uma meta (comprar um carro, um imóvel, abrir um negócio, uma viagem pro exterior?), fazer um pé de meia ou para eventuais necessidades.
Investimento: R$500
4. Some tudo e divida pela horas trabalhadas num mês
Supondo que você trabalhe 5 dias por semana, 8h por dia, um mês terá em média 160h trabalhadas, portanto:
R$3700 + R$350 + R$500 ÷ 160H = R$28
Lembrando que este valor é o valor mínimo da sua hora trabalhada, que nunca deve ser menor que este valor. Ao fazer um orçamento, não devemos levar em consideração apenas as horas trabalhadas, sendo que este cálculo deve ser feito apenas para estabelecer uma base ou “piso” do seu orçamento.
[Foto por Alejandro Escamilla (https://unsplash.com/photos/BbQLHCpVUqA) ]
Agora, analise o CLIENTE e a PROPOSTA
Agora partimos para as verdadeiras variáveis do seu orçamento, que vão definir qual será o valor final do seu job.
1. Quem é seu cliente?
O seu cliente é uma pessoa física ou uma editora/agência? Os valores são diferentes quando trabalhamos para o mercado e quando fazemos uma encomenda “pro vizinho”. Quando trabalhamos para o mercado, estamos lindando com valores tabelados (caso seja o mercado editorial) e qualquer valor muito fora disso (para mais e para menos) pode ser problemático. Confira a tabela da SIB (Associação dos Ilustradores Brasileiros) e a tabela da Adegraf para tirar algumas dúvidas. As ilustrações são tabeladas de acordo com seu tamanho (página dupla, meia página?) e disposição no material (ilustração de capa ou interna?). Quanto as encomendas “pessoais” eu costumo usar valores próximos daquele cálculo que fizemos de hora trabalhada.
2. Qual a visibilidade deste job?
Enquanto os valores do mercado editorial são tabelados e raramente fogem disso, os valores de ilustração para agências ou campanhas publicitárias podem ter uma outra variável: visibilidade. É diferente fazer uma ilustração pra uma campanha de marca pequena e para uma campanha da Nike, não é mesmo? Quanto maior a visibilidade (e a responsabilidade) do job, maior o valor, por isso, não tenha medo de pesquisar e perguntar sobre o cliente, sobre a campanha, porque assim você elimina algumas “surpresinhas” que podem surgir no meio do caminho, e também não se sentirá desvalorizado.
3. Qual o prazo?
Quando o novo job chega, você acaba precisando reorganizar toda a sua agenda e trabalhos vigentes para encaixá-lo. Quando o prazo é muito pequeno e isso vai demandar mais de você que a sua disponibilidade (de repente tendo que atrasar outros projetos em função disso, ou então virar algumas noites) será preciso cobrar uma taxa de urgência. O mesmo vale para trabalhos que demandem de você mais exclusividade, no caso de te impedir de pegar outros jobs enquanto estiver fazendo esse.
4. Inclua todos os gastos extras
Os gastos com este job fogem da sua lista de despesas tradicional? Inclua no orçamento!
Não se esqueça:
O tempo que você gasta respondendo e-mails, indo a reuniões, desenvolvendo rascunhos, procurando referências, também faz parte do processo criativo do job e deve ser contabilizado!
[Foto por Lia Leslie (https://unsplash.com/photos/yjXlyrKIz2A) ]
O imensurável
Ok, Mary, já montei minhas tabelas, já sei o valor da minha hora de trabalho, já conheci meu cliente, mas e quanto ao valor do meu processo criativo, ou melhor: quanto vale a minha criatividade?!
A maioria dos artistas e ilustradores tem muita dificuldade de calcular um orçamento justamente porque nosso trabalho tem um valor agregado que é completamente subjetivo. Todos precisam pagar contas, é verdade, por isso é importante manter esse lado objetivo de criar tabelas e cálculos de valores reais para manter os pés no chão. Mas ao mesmo tempo, existe todo um lado que também é impossível ignorar.
Por um lado, todo artista deve saber que existe um mercado a ser respeitado, pra não virar a casa da mãe joana.
Se cada um cobrar o que quer, vira bagunça. Sem contar que um orçamento muito abaixo do aceitável desequilibra a concorrência e desvaloriza não só o trabalho de quem faz isso, mas de todos os artistas que não conseguem competir com este valo. Essa prática também dá a impressão de que nosso trabalho pode ser comprado “a preço de banana”. Mas por outro lado, se cobrar muito a cima, você não vai conseguir nenhum job.
Existe, sim, um valor imensurável dentro de cada um, incluindo sua experiência na área, sua visibilidade e influência no mundo físico e virtual. Tudo isso tem um peso que deve ser transportado para a hora de orçar.
Vocês vão perceber que o “tempo” ou “horas trabalhadas” não são a forma ideal de calcular um job, justamente porque cada um tem seu tempo, seu processo criativo e trabalha de uma forma. O mais valioso nesse caso, é o que você pode oferecer para seu cliente, o que o destaca e o torna diferente dos outros. Seu estilo, sua técnica, sua marca, seu profissionalismo? Não tenha medo de cobrar pelo que você é capaz de fazer e pelo que sua arte significa pra sociedade. Agora que você tem um pé no chão e já sabe quanto cobrar usando os métodos acima, aquele extra, o “imensurável” é você quem vai decidir.
Dicas finais:
- Alguns vão reclamar que é muito caro, e vão tentar te dissuadir de fazer mais barato, por isso é preciso ter jogo de cintura pra saber se vale a pena ou não ceder um pouquinho. Agora que você sabe reconhecer um valor justo, não tenha medo de dizer não.
- Passe longe de “ilustrações em troca de divulgação”. Estas pessoas só estão querendo ganhar vantagem em cima do trabalho sério de um artista.
- Analise as propostas de parceria com sabedoria, listando lados positivos e negativos. Você tem que ganhar algo com isso também.
- Faça contratos!
Espero que tenham gostado deste post e que tenha sido de alguma forma útil pra vocês. Se ainda tiverem dúvidas, deixem nos comentários e até a próxima ;D
Leia também o Guia do Ilustrador Freelancer para mais informações.
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